“Tudo não está feito certamente aos três anos, nem aos seis, nem jamais – mas tudo o que se passa na pequena infância vai fornecer as ancoragens para coisas futuras.”
Bernard Golse
Neste mês de outubro, comemora-se o Dia das Crianças. Para além de dar brinquedos e muito afeto, uma forma de cuidá-las ainda melhor é refletir sobre a saúde mental delas.
Sabe-se que os três primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo, entretanto, o possível sofrimento psíquico das crianças – em especial, dos bebês – nem sempre é reconhecido. A infância ainda é vinculada a um período de felicidade e alegria, como se não houvesse lugar para a tristeza, a ansiedade e a insegurança. Há um longo caminho a ser percorrido para que mais profissionais, bem como a população em geral conheçam os sinais de sofrimento e sintomas no início da vida. Somente assim, os bebês, as crianças e suas famílias terão a oportunidade de receber auxílio e tratamento se for o caso. Deste modo, há mais possibilidade de evitar que comportamentos e patologias se estruturem.
Apesar de estarem em expansão, pesquisas focadas na saúde mental de indivíduos na primeiríssima infância (0 a 3 anos) ainda são insuficientes. Todavia, os resultados destes estudos reconhecem a existência de sintomas e psicopatologias nesta faixa etária (Recktenvald et al., 2017). Dificuldades para lidar com os comportamentos desafiadores e de oposição dos bebês e das crianças; ansiedade, por exemplo, ao se separar de seus cuidadores; dificuldades de alimentação e sono; problemas respiratórios e de pele que se repetem; tristeza; medo intenso; agitação; pouca interação são alguns dos sinais que requerem a busca por avaliação e/ou suporte psicológico.
Como bebês e crianças não existem sozinhos, é fundamental olhar, também, seus cuidadores. Isso porque o que acontece com um é sentido pelo outro e reflete nele.
Sabe-se que, desde o início, a gestação acarreta significativas mudanças na vida do casal – principalmente de ordem emocional; o que antes eram certezas, passam a ser dúvidas que precisam ser escutadas. Sentimentos como tristeza, medo, ansiedade, insegurança e frustração podem coexistir com a alegria desde a gestação até após o nascimento do bebê. Para lidar com os novos desafios, idealmente, a família necessita ter uma rede que a apoie e possa fornecer cuidados.
O Departamento de Intervenção Precoce do Contemporâneo existe há mais de 15 anos. Somos um grupo composto por psicólogos e estudantes de psicologia que se dedicam ao estudo da gestação, do vínculo pais-bebê e do desenvolvimento nos três primeiros anos de vida. Desde sua fundação, o Departamento é coordenado por Cíntia S. Dipp e Karina Recktenvald.
Na clínica do Contemporâneo, acolhemos gestantes, pais e seus bebês em psicoterapia e nos encontros do projeto Maternando. Trata-se de um grupo de escuta e reflexão para gestantes e pais de bebês de 0 a 3 anos cujo objetivo é promover saúde mental para a família, através de encontros mensais online e gratuitos.
Referências
Recktenvald, K; Mallmann, M. Y; Schmidt, F. M. D.; Fiorini, G. P.; Cappellari, C. P da C. Caracterização da clientela de bebês em uma clínica-escola de psicoterapia psicanalítica. Revista Brasileira de Psicoterapia. 2016; 18(3):15-30.